segunda-feira, 21 de março de 2011

O que esperar do futuro? por Miguel Vasconcelos

Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), a idade média da reforma vai subir para os 65 anos em 2050, mas mesmo assim, será insuficiente para colmatar o aumento de custos com os reformados. Este alerta foi lançado no relatório 'Pensions at a Glance', divulgado esta semana.
Em suma, as recentes alterações assumidas no mercado laboral e social dos vários países vão ser insuficientes para sustentar as pensões no futuro, apesar dos aumentos sucessivos da idade de reforma em metade dos 31 países da OCDE. Em média, vai subir 1,5 anos para os homens e 2,5 para as mulheres.
Devido ao aumento da esperança de vida, a idade de reforma vai continuar a ser superior, o que, apesar de todas as alterações na lei, o aclamado estado social será uma utopia cada vez mais evidente. Com uma despesa pública descontrolada, com o envelhecimento da população, caminhamos para o caos social, não só em Portugal, como numa grande parte dos países que fazem parte da OCDE.
Segundo o relatório 'Pensions at a Glance', as reformas nas pensões dos países da OCDE desde o início dos anos 90 reduziram em média cerca de 20 por cento em benefícios futuros.
A título de exemplo, Portugal é o país da Europa onde os homens se reformam mais tarde (67 anos) e dois anos depois da idade legal de reforma. As mulheres portuguesas reformam-se aos 63,4 anos, antes da idade legal, próximo da média dos parceiros comunitários.
O Instituto de Emprego e Formação Profissional informou, também esta semana, que no final de Fevereiro encontravam-se inscritos nos Centros de Emprego do Continente e das Regiões Autónomas 555.547 desempregados.
Juntando todos estes dados, chego à conclusão que o meu futuro está seriamente comprometido. E pior que eu, que faço parte da geração 'rasca', estarão todas as outras, como a 'à rasca' e outras tantas que algum iluminado se encarregará de denominar.
Não vale a pena alimentar mais ilusões.
Se o problema se coloca, presentemente, nas reformas e na sustentabilidade da Segurança Social, pergunto se não é ainda mais grave quando, nesta altura, se fala de precariedade laboral, dos baixos salários, dos cortes nos apoios sociais, na total ausência de incentivo à natalidade, no aumento dos preços nos bens de primeira necessidade, na diminuição dos benefícios fiscais, na falta de financiamento para as escolas, em particular
para o Ensino Superior...
De que me vale preocupar-me com o que irei receber no futuro, se não sei se vou continuar a ter no presente. Os jovens de hoje e os de amanhã não só deixarão de ser apoiados na sua velhice, como também não irão ganhar a fatia salarial que merecidamente lhes deveria estar destinada. E vão viver como? De quê? Como vão constituir família? E como irão viver os seus filhos se os pais pouco têm para os apoiar?
Ainda por cima, eu, os meus filhos, os meus netos, bisnetos e coisa e tal... vamos ter que pagar investimentos desmedidos que alguém se lembrou de fazer, numa altura em que era necessário pôr o travão a este princípio de viver acima das nossas reais possibilidades.
Mesmo assim, a geração 'rasca', a 'à rasca' e outras que por aí vão surgir, vão continuar a viver, dia-a-dia, com a esperança de que o amanhã será melhor, arriscando, quase que como quem dá um passo em frente perante o precipício, constituir família, a construir um lar honrado, a conviver com a família e amigos, a dar o seu melhor no trabalho (quando o têm), a dedicar 10 ou 12 horas por dia à sua vida profissional, a almoçar rápido e mal, a não desanimar perante tanta adversidade.
Há uma coisa que ninguém nos pode tirar. Há algo que nenhum político incompetente poderá hipotecar, que nenhum líder da oposição poderá chumbar, que nenhum coveiro poderá enterrar, que nenhum árbitro farsola poderá anular: a alegria de ter uma família, de poder sorrir para os outros, de ter um precioso euro no bolso para tomar um café numa bela esplanada com os que mais amamos. Em suma, viver bem com pouco...
Costumamos entender o conceito 'tesouro' como um conjunto de riquezas de qualquer tipo, usualmente dinheiro, jóias, pedras e metais preciosos, algum bem valioso guardado ou escondido. Acredito que, apesar do caos social, do barulho dos po-líticos e dos que comem do 'tacho' da política, da ganância do poder e da incompetência de tantos líderes, é possível possuir outro tipo de tesouros.
Hoje, 'Dia do Pai', não posso deixar de partilhar a minha alegria por ter o meu a meu lado. Esse, no meio de outros, pode ser um dos maiores tesouros na vida de uma pessoa. Sabem porquê? Porque o dinheiro não o compra, não o leva, não o faz mais ou menos amigo. O meu, na sua simplicidade, não tem ouro, incenso nem mirra, não terá grande reforma nem quintas para partilhar. Tem tudo o resto que é muito mais importante para a minha felicidade.

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